Museu de muitos donos completa dez anos de tombamento estadual

O Edifício Storck, que sedia a Casa de Cultura de Venâncio Aires, composta por museu, arquivo, biblioteca e discoteca, completou dez anos de tombamento estadual. Além do prédio, o tombamento concedido pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE/RS) contempla os bens móveis e integrados e o acervo do museu. Nas exposições permanentes, destacam-se vestidos de noiva pretos, realejo, instrumentos musicais, uma bicicleta de madeira, vestimentas religiosas, armas, espadas, numismática e arqueologia. A visitação ao local e seus espaços, desde a sua origem, é gratuita.

O prédio é tido como um exemplar imponente da arquitetura erudita de imigração alemã no Rio Grande do Sul. Em estilo europeu, com 1.328 metros quadrados, foi a primeira edificação com mais de dois pavimentos da cidade. O IPHAE/RS destaca que “o imóvel tem alto valor histórico e arquitetônico que justificam o seu tombamento. Trata-se de um testemunho da história local, através de seu processo de constituição como museu comunitário, preservado pelo esforço e participação coletiva”.

A publicação no Diário Oficial, assinada pelo então secretário de Cultura, Luiz Antonio de Assis Brasil, se deu no dia 17 de fevereiro de 2012, transformando-se assim em patrimônio cultural e histórico de todos os gaúchos. Contudo, a data de inscrição no livro tombo foi o dia 20 de julho. A origem do museu foi relembrada nesta quinta-feira, 3, em entrevista ao programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Terra FM, pelo tesoureiro e cofundador da entidade, o médio aposentado Flávio Seibt.

ACERVO E HISTÓRIA

O acervo é estimado em 80 mil peças, entre objetos antigos, livros, discos, documentos e fotos, que estão em processo de catalogação. O título ‘O museu de muitos donos’ é uma referência à origem do espaço, considerado um diferencial entre os museus comunitários, por questões como origem e sustentabilidade. Por conta disso, a sua história foi contada em quatro congressos internacionais do Conselho Internacional de Museus (Icom): 2003 em Barcelona (Espanha), 2006 em Seul (Coreia do Sul), 2009 em Viena (Áustria) e em 2015 no Rio de Janeiro.

Em 1994 foi iniciada uma campanha popular para a aquisição do Edifício Storck. Como a entidade não tinha dinheiro em caixa, a comunidade foi mobilizada e passou a contribuir com pequenas doações mensais. O pagamento foi concluído em 1998, quando foram arrecadados US$ 500 mil (no câmbio da época), com a participação de 673 doadores, além da ajuda de emenda parlamentar do deputado estadual Gleno Scherer e do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. A partir deste momento, destacou Seibt, estava assegurado um local definitivo para abrigar os objetos adquiridos ou recebidos em doações, resultantes de uma campanha empreendida na comunidade antes mesmo da aquisição do prédio.

O edifício passou por uma desocupação a partir de 1996. Mas, já em 1997, com a presença do então ministro da Cultura, Francisco Correia Weffort, foi reaberto o museu no revitalizado Edifício Storck. Antes do reconhecimento estadual, em 26 de outubro de 2001, o Edifício Storck foi declarado ‘Patrimônio Histórico Municipal de Venâncio Aires’, tornando-se o primeiro patrimônio do município. Fundado em 10 de dezembro de 1987, o Núcleo de Cultura de Venâncio Aires (Nucva) é uma entidade não-governamental e sem fins lucrativos que mantém o museu. A fundação do museu ocorreu em 26 de outubro de 1994.

O MUSEU HOJE

Atualmente, a principal fonte de arrecadação de recursos do museu se dá por meio da captação de valores por sucessivos projetos de incentivos fiscais à cultura. O mais recente, pela Lei Rouanet, está em análise no Governo Federal desde o ano passado. É intenção, caso seja aprovado o projeto, usar o valor de R$ 300 mil para custeio e investimentos no museu.

Estão entre os projetos da entidade ampliar a estrutura do museu a partir de terreno desapropriado no fundos do prédio. A intenção é elevar para 748 metros quadrados a área construída, com três andares e climatizado para preservar o acervo isolado em local seguro. Também avança a catalogação e organização de acervos iniciados na hemeroteca, discoteca e biblioteca.

Hoje, o museu emprega três funcionários e conta ainda com a colaboração voluntária de outras duas pessoas. Um dos pleitos mais recentes, reivindicado há três anos à Administração Municipal, é a isenção do pagamento da Taxa de Lixo, como forma de contribuir com as finanças da Casa de Cultura. “Muita gente não tem ideia da importância desse museu para Venâncio Aires e para o estado”, diz Seibt. Apenas de revistas, foram catalogadas mais de três mil exemplares da extinta Cruzeiro.

Outro projeto que avança trata das franquias do museu. São expositores metálicos itinerantes que destacam o acervo em duplicidade para escolas e ao Centro de Atendimento ao Turista (CAT). O Museu de Venâncio Aires funciona de terças a sextas, das 13h30min às 17h, e abre ainda aos domingos, duas vezes por mês, das 14h às 17h. Contatos e outras informações podem ser obtidos pelo telefone (51) 3741-5713 ou pelo e-mail contato@museuvaires.com.br.

ORIGEM DO PRÉDIO

O local onde está localizada a Casa de Cultura pertencia inicialmente à família do farmacêutico Goswino Storck. Construído em 1929, foi o primeiro prédio de Venâncio Aires com mais de um pavimento.

O responsável pela construção foi Simon Gramlich, arquiteto alemão que projetou a Igreja Matriz São Sebastião do Mártir e a Igreja Matriz São João Batista, em Santa Cruz do Sul, ambas em estilo neogótico. O arquiteto ainda foi responsável por outras obras também de destaque no estado, em Santa Catarina e no Paraná, a partir de 1929.

Goswino Storck desejava inicialmente que o prédio sediasse uma clínica médica e um laboratório, visto que o atendimento médico mais próximo era na Vila de Taquari. Quando as obras estavam quase concluídas, as dependências também foram ocupadas à medida que a família se ampliava com o nascimento dos filhos de Goswino e de sua esposa, Dolores.

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