Embora não se saiba exatamente quantas pessoas em Venâncio Aires vivem com ‘insegurança alimentar’, ou seja, correm o risco de deixar de comer pela falta de dinheiro, é possível se ter uma ideia a partir do movimento em entidades assistenciais. No Centro Promocional João XXIII, por exemplo, a rotina é em meio aqueles que estão com dificuldades ou, na pior das hipóteses, passando fome. Por isso, nesta quinta-feira, 28, em mais um Dia de Ação de Graças, ocorre a tradicional ação solidária em parceria com Rádio Terra FM e jornal Folha do Mate. É o momento em que as pessoas, em sinal de agradecimento pelas conquistas do ano, podem retribuir doando alimentos.
São as doações de cidadãos, empresas, indústrias, Banco de Alimentos e Mesa Brasil, que ajudam o João XXIII a garantir cestas básicas e lanches a moradores carentes da Capital do Chimarrão. “A fome ainda é uma realidade em Venâncio Aires. Uma necessidade básica que infelizmente existe para muitas famílias”, destaca Ivone Dullius Schaefer, 74 anos, no segundo mandato como presidente e voluntária há cerca de 15 anos na entidade.
Até outubro, o João XXIII já distribuiu 720 ranchos (basicamente com arroz, feijão, massa, óleo, açúcar e farinha) a pessoas que integram um cadastro com aproximadamente 250 nomes (nem todos buscam as cestas básicas todo mês). Também até outubro, já foram distribuídos 6,3 mil lanches (nunca baixa de 30 por dia), estes para qualquer cidadão que bater na porta do prédio na rua Visconde do Rio Branco, em frente à Escola Estadual Cônego Albino Juchem. “As pessoas vêm aqui, explicam suas situações, nos pedem um lanche e não negamos. Quando se faz caridade, não se entra em julgamento”, complementa Ivone.
Cafés nas vilas
Além dos ranchos e dos lanches, o João XXIII também contabiliza o que chama de ‘diversos’, pequenos kits formados geralmente por uma dupla de alimentos: arroz e feijão, ou feijão e massa, ou arroz e bolacha. Nesse caso, já foram 322 em 2024, até outubro.
Semanalmente, a entidade também promove o ‘café nas vilas’, com atuais 42 pessoas beneficiadas. Nas segundas-feiras é servido um café da manhã na Comunidade São João Batista, no bairro Brands; nas terças na Comunidade Santo Antônio, na Vila Freese; nas quartas na Comunidade Santa Bárbara, na Vila Rica; e nas sextas na Comunidade da Vila Boa Esperança. Quem toma café nesses locais, também leva para casa um bolo ou um pão, e um litro de leite.
Ainda, o João XXIII mantém compromisso mensal com 19 famílias cadastradas e que são acompanhadas com visitas. Elas também buscam rancho todo mês.
As histórias presenciadas pelos voluntários
Lúcia Wagner, 77 anos, e que por duas vezes presidiu a entidade, é voluntária há mais de 20 anos, sendo uma das remanescentes, como ela mesmo define, “dos tempos de ‘porão’ da Igreja São Sebastião Mártir”, local onde o João XXIII funcionou entre 1965 (ano de fundação) até 2010, quando se mudou para a rua Visconde do Rio Branco.
Lúcia conta que, além da fome, há outras realidades difíceis no município, como casos de abandono familiar, de grávidas com companheiros presos, de jovens definhando pelo uso de entorpecentes. “A miséria humana está em várias situações. A fome é uma delas. É surpreendente a decadência física de rapazes por causa das drogas, por exemplo.”
A voluntária também relata a situação de uma senhora de idade, que assumiu a criação de quatro netos. “No dia que ela veio buscar o rancho, chovia muito. Mas ela disse que voltaria para casa assim mesmo, porque na residência dela chovia dentro igual como na rua.”
Assim como há os relatos das dificuldades, há as histórias positivas. A presidente do João XXIII, Ivone Schaefer, revela a atitude de um viúvo, que faz hemodiálise e tem um filho com necessidades especiais. “A pensão do filho estava no nome da mãe, mas conseguiu que esse valor passasse para o nome dele. Então nos chamou e disse, que com a aposentadoria e a pensão, conseguia se virar e que o rancho que recebia, poderia ser passado para outra pessoa mais necessitada.”
Solidariedade toda semana
Assim como muitas empresas que ajudam o João XXIII o ano todo e a comunidade que se mobiliza especialmente no Dia de Ação de Graças, há casos de solidariedade que chamam atenção. Um exemplo é de um senhor, na casa dos 70 anos, que vai na entidade toda semana para levar arroz, feijão e massa. “Esses dias eles apareceu, mas não tinha os alimentos. Então me deu R$ 22 para comprar”, revela Ivone Schaefer.
20 – é o número de voluntários que atuam no João XXIII, além de uma funcionária.
Terra FM ao vivo do Centro
Durante esta quinta, entre 8h e 18h, a Terra FM, que mantém a parceria com o João XXIII desde 2007, estará com programação ao vivo direto da Praça Coronel Thomaz Pereira (Praça da Matriz). Em caso de chuva, a estrutura ficará no Pavilhão de Eventos São Sebastião Mártir. Folha e Terra se disponibilizam a buscar nas residências e empresas de quem não conseguir levar as doações até o Centro. O contato é pelo 3793-2450 ou WhatsApp 51 99223-8585.
Além das doações no Centro, a comunidade também poderá levá-las diretamente na sede do João XXIII, na rua Visconde do Rio Branco, em frente à Escola Cônego Albino Juchem; ou na missa de Ação de Graças, às 19h30min, na Igreja São Sebastião Mártir.